War

Todos levam Deus como uma entidade séria, concentrado em suas atividades divinas e em ajudar as pessoas, sempre com a mão no queixo, analisando atentamente a tudo. Mas a verdade é que Deus tem muito, mas muito senso de humor. E não falo nem dos ornitorrincos, tampouco de Brasília, que já seriam provas contundentes. A verdade é que as traquinagens divinas começaram desde a criação do mundo, aliás, desde a negociação dos prazos:

– Quanto tempo?

– Hum… Dá para fazer em sete dias.

– Sete?!?! Você está maluco?  Vocês são todos iguais. Para não perder trabalho, fazem tudo apertado.

– Eu fiz Marte em quatro.

– Deus, Marte não tem ninguém, não tem água… É uma bola vermelha!

– …

– O que foi?

– Nada…

– O que que? Ok, desculpe. Não quis diminuir seu trabalho.

– Duas luas… Duas luas!! Você sabe o trabalho que dá para fazer duas luas para aquele tamanho de planeta?

– Ok… Desculpe. Não foi por mal.

– Faço em seis e ainda descanso no último dia pra você!

– Ok… ok… Não vamos discutir isso. Meu assistente virá aqui para ver como ficou.

Deus tem um problema sério. Esse negócio de ser onisciente e onipresente o deixa com orgulho. Se fala que vai conseguir, vai lá e consegue. Mas esses dons também o ajudaram a aprontar das suas. Assim como todos, Deus também tem os seus momentos de lazer.  É claro que, tendo que estar sempre atento aos nossos pedidos, ele também aproveita e descontrai brincando um pouco conosco. Anedotas sociais causadas pelo Poderoso, para distraí-lo após um lanche, nos seus momentos de folga. Deus tem, em seu quarto, um tipo de vudu terráquio. Uma espécie de tabuleiro de War, mas muito mais incrementado. Ele o abre, escolhe um lugar, e começa com as suas peripécias. Ou você acha que há explicação para aquele congestionamento incrível, em que você fica parado horas e, como por um “milagre”, tudo se abre a sua frente? Ou quando começa a chover assim que você vira o quarteirão, saindo de casa, e só para quando chega ao seu destino? Ou quando dá um fora, por exemplo, é coincidência? Pense bem! Você sempre pensa “Por que não fiquei quieto?”, ou “Por que perguntei justo isso?”, e, o mais intrigante, “Como pode? Encontrar essa pessoa justo aqui?”. É… É justamente isso que você está pensando…

– Olá! Tudo bem?

“Não. Não está tudo bem. Não faço ideia de quem você é”

– Tudo sim… É…

– Gisele! Nossa! Não se lembra de mim?

– Ah… claro! Gisele… Gi… Claro que sim. É que estou sem óculos. Não reconheço nem a mim quando me olho no espelho sem eles. Quanto tempo! A última vez que a vi foi na casa do Marcos. E vamos nos encontrar justo aqui, que coisa…

– Na verdade nos vimos na festa que você deu na sua casa, há um mês. Esse dia na casa do Marcos faz meses já.

“Sério. Você me reconheceu para ficar quebrando as minhas pernas? É isso?”

– É verdade. É que aquele dia, tava muito… né? Mas e o que anda fazendo da vida? Ainda trabalhando com pesquisas e matando ratinhos?

“Isso, brinca com a profissão dela, assim você vai controlar a situação!”

– Não mais. Fui despedida. Minha pesquisa foi um fracasso total.

“Muito bem. Muito bem. Mais uma na cara”

-Hum… Mas, mudando de assunto, você é uma possessiva hein, senhorita Gisele!

– Eu? Por quê?

– O Marcos foi em casa sábado e disse que tinha que sair correndo para buscar a namorada para ir ao bar. Se ele atrasar você briga com ele é?

– Marcos e eu não estamos mais juntos. Ele me trocou pela ex.

Nessas horas você pensa “claro. Senão ele falaria ‘Gisele’ e não ‘minha namorada’. Por que não pensei nisso?”’. Posso imaginar daqui as risadinhas do além…

– Nossa… Como as coisas mudam em tão pouco tempo!

“Até um minuto atrás, por exemplo, eu ainda queria viver, já agora…”

– Eu o vi sábado também. Eu estava no bar que ele foi com aquela lá…

– Ah, que bom que vocês estão amigos então.

– Amiga? Daquele canalha?!?! Nem pensar. Eu fui lá para flagrar ele com a ex. Ele jurava que não saía mais com ela.

“Por Deus (mesmo!). Não vou dar uma dentro hoje?”

– Nossa… Mas, a essa hora da noite, e a gente se encontra no metrô, não?

– É. Está tarde mesmo. Liguei para a minha mãe e ela disse que vai até para o portão já esperar a redonda. Preciso chegar rápido em casa.

– Mas o que é isso, Gi. Eu acho que você está ótima. Assim, claro que as mulheres sempre querem emagrecer… Mas não deixe sua mãe te chamar assim não… Redonda… Onde já se viu?

“Boa! Elogie uma mulher que você se dá sempre bem”

– O QUÊ?!?! Estou falando que minha mãe foi esperar a pizza chegar, porque está tarde, ela já até fez o pedido antes de eu chegar!!

Depois disso, chega a sua estação. Você se despede e pensa “por que eu? Por que agora?”

Nesse momento, alguém ri com a mão na barriga em frente ao seu tabuleiro.

– Deus?

– Sim

– Com licença. Vim ver o pedido. O chefe já está chegando. Está tudo pronto?

– Sim. Aqui está.

– Mas e essas partes sem pintar?

– O QUÊ?!? Como não vi isso? Meu Eu! Meu Eu!… Não posso dar o braço a torcer para ele. Para ele não… Tenho uma ideia…

– O que você vai fazer?

– Me passa a tinta verde. Pronto! Alimentos verdes. Perfeito! Me passa o pote de sabor.

– Acabou!

– COMO?!?!

– Sim, está vazio.

– Droga! Droga! Já sei… Vou deixar isso sem sabor. E vou tirar o saudável de algum lugar…

– O quê?

– Daqui! Churrasco, Feijoada e Porções de bares… Sem saúde! Feito.

– Mas Deus…

– Pense. Uns sem sabor, outros sem o saudável… É justo.

– Não vai dar certo…

– Não há mais tempo… Estou com passagem comprada. Amanhã eu viajo. Ele não vai notar, se você não contar… E…

– Não contar o quê? Atrapalho alguma coisa?

– Chefe?!?! Que rápido!

– Jamais! Não atrapalha em nada… Entre!

– O que vocês não podem me contar?

– Do brinde que eu ia dar… Mas você estragou a surpresa… Mas tudo bem. Aqui está o mundo… E aqui está o seu brinde…

– Hum… Muito bom. Bom trabalho. Mas… O que é esse brinde?

– Se chama Enxofre. Fiz a mais para você. Se ferver e passar isso todos os dias, no banho, seu aroma atrairá mulheres.

– Atrairá?

– Todas elas!

– Verdade?

– Claro… Afinal, eu que inventei! Leve junto com a encomenda. É por conta da casa.

É… E ele acreditou… Deus é um fanfarrão…

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Trilha Sonora

O Nascimento. Momento de uma descoberta muito maior do que se poderia imaginar. Nada em sua volta lhe é familiar, mas você resiste bravamente e , como um bom homem, chora. O choro de alegria comovente de sua mãe é a primeira música que lhe vem aos ouvidos, em meio a bombas que decoram o visual do outro lado do oceano. O conforto do colo materno lhe atrai e o faz apreciar aquela sinfonia carinhosa.

Durante algum tempo, músicas de ninar tomam coro em seu dia a dia. Sem entender muito bem o porquê, um sono tranquilo vem a dominar o seu pequenino corpo. As falas avançam e você passa a completar as últimas palavras das musiquinhas, agora mais alegres, mais divertidas, junto de sua mãe.  Com algumas músicas a mais, você passa a cantarolar com amigos, em rodas de ciranda, Quadrilhas Juninas ou na levada de brincadeiras. Mas não mais aquelas músicas que sua mãe cantava. Aquilo era coisa para criança, não é mesmo? À noite, ver seu pai ao lado do rádio ouvindo um tal de Sinatra causa uma admiração que você mesmo não entende. Simplesmente fica olhando aquele cansado homem, sentado, com o olhar parado, pensando longe, notando o prazer que lhe proporcionam aquelas palavras que, certamente, não sabe o que dizem, mas que fazem todo o sentido ao senti-las, silenciosamente.

De repente, você se depara com um topetudo, vestido com roupas extravagantes, chamado Elvis Presley. E não é que ele dança bem? Vira uma febre. Géis e mais géis tomam conta de seu armário. É um arraso.

Ah, mas você queria conhecer mais. Quando quatro rapazes de Liverpool colocam o mundo de cabeça para baixo, você dança bailes ao som de A hard days nigth, e diz que quer segurar a mão da moça, fazendo alusão ao outro hit. Janis Joplin, Johnny Rivers, Rolling Stones, tomam conta de seus dias. O fim do mês nunca foi tão esperado. Assim que o pagamento vem, você corre para a loja de discos. Porém, músicas e bailes diminuem, e Let it be começa a prender mais a sua atenção. Love me Do soa nostálgico. É claro que com Satisfation tocando você ainda arrisca uns passos, mas nada de exagero.

Led Zeppelin conduz sua lua de mel. As calças ficam com bocas maiores que sua cintura, e você teima em não cortar esse cabelo. Seu filho tem a sorte de, além das músicas de ninar que ouve, conseguir adormecer em seu colo ao compasso de Wish you were here. 

Eric Clapton o tranquiliza nos momentos de brigas. Elton John o faz dançar para fazer as pazes. Acontece… No Domingo, “Gitá” e “Al Capone” animam o churrasco com a família.

Os discos vão aumentando na coleção e você lamenta por Iron Maiden não ter surgido antes. Gostaria de ter ido a um show, mas se tudo der certo seu filho o representará com louvor.  “Vocês acham que isso é cabelo? Vocês precisavam ver o Elvis, aquilo que era atitude”. Essa frase nunca falha quando assiste a Jump. Van Halen definitivamente não o comove. Algumas coisas você não entende, mas acaba cedendo e compra o disco da Legião Urbana para seu filho. Essa história de estar pelado e com a mão no bolso o faz rir. Essa juventude não tem mais o que inventar.

É normal, após a morte de um artista, nós começarmos a admirar mais suas obras. “Regra 3” faz muito mais sentido agora, mas “Gente humilde “ é muito triste, prefere ouvir “Brasil”, com Cazuza.

“Na minha época, os jovens usavam roupas novas para sair com as meninas, e não essas roupas velhas rasgadas!” É, mas não há como lutar contra a onda Grunge. Você também foi rebelde para a sua época, por isso não peça para seu filho abaixar o volume de Smells Like Teen Spirit. Não existem mais músicas boas. Redescobre então Bee Gees na hora certa. “Como não gostava antes?” Essa pergunta nunca terá resposta…

Quando Oasis toca é inevitável o comentário “esses aí querem ser iguais aos Beatles, mas não tem comparação, vocês precisavam ver…” Cold Play, Vines, Hives, nada mais lhe toca. Ouvir “Gente humilde” lhe traz as lágrimas ao lembrar da sua infância. “Minha história” traz lembranças maternais. Revira discos antigos e acha Roberto Carlos. Lembra-se então que cantava “Despedida” nos dias que sua mulher o abraçava brincando de não querer deixá-lo ir trabalhar. Porém, agora, o último verso lhe soa muito mais longo.

Estranhamente as músicas de roda voltam vivas à sua cabeça. Canta sempre a todos as músicas que cantava para seu filho e que ouvia de sua mãe. Ao lembrar delas mentalmente o sono bate mais forte.   Até chegar o sono mais tranquilo que já teve.

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Pavê

– Outra vez pavê, Edmar? Ela não sabe fazer outra coisa?

– Mas amor, o pavê dela é muito bom. Todos adoram.

– Mas, Edmar, pelo amor de Deus, eu não aguento mais pavê no Natal, Edmar. Todo ano, todo ano, todo ano, Edmar.

– Meu bem, não coma o pavê então… ninguém vai reparar.

– Você quer dizer o que com isso, Edmar? Que ninguém repara em mim? É isso? É claro! Eu fico enfornada nessa porcaria de cozinha!

– Pronto… claro que reparam… minha lindinha, eu reparo em você…

– Edmar, você repara em mim, Edmar? Você bebe que nem um cabrito, começa a sambar no meio da turma e vai dormir… é sempre a mesma coisa, sempre a mesma coisa! Edmar você precisa se tratar. Olha, Edmar você não consegue se controlar com a bebida, isso é grave e eu não vou passar vergonha esse ano de novo! Você não pense que eu vou…

– Precisa colocar o pavê na geladeira amor.

– Ah, é verdade. Edmar, eu não aguento mais esse pavê. Eu não aguento mais o Natal, Edmar…

– Como assim? É o Nascimento de Cristo.

– Ele nasce e eu pago o pato. É assim que tem que ser? Edmar, todo ano a mesma coisa. Eu fico nesse forno gigante que é essa cozinha, faço a comida para um bando de gente vir aqui comer. As donzelas ficam ali sentadas esperando a comida ficar pronta. Sua irmã sempre traz o pão recheado com atum. Seu primo Zézinho sempre briga com a mulher porque ela rebola demais… Vadia!

– Mas o que é isso meu amor?!?!

– E não é? Vai dizer que ela não é. Então tá. Vou começar a dançar como ela… rebolar pra todo mundo ver e…

– Ok… ok… ela é vadia.

– A Dona Olga sempre reclama da minha lasanha. Por que ela não vem fazer então? Eu fico dias comprando as coisas, Edmar… dias! Para essa velha vir falar que eu não alimento você direito, Edmar…

– Amor… assim, essa “velha” ainda é a minha mãe. Você podia pegar mais leve ao falar dela né?

– É uma velha. Ué? Tô falando mentira? E esse pavê? Ahhhh deixa que eu vou acabar logo com isso…

– Não, amor, mas o que é isso?!?! Me dá isso aqui! Você ia jogar o pavê no lixo? Mas o que é isso… Você está ficando louca?

– Eu não aguento mais esse pavê, Edmar.

– Você faz Tender todos os anos também e ninguém fala nada.

– É a tradição, Edmar. Faça-me um favor. Tra-di-ção! Ou o Papai Noel também tem que variar o modelito dele todo ano porque vermelho saiu de moda?

– Ok. Amor. Esqueça o pavê. Tá? Vamos para lá… com todos… comer.

– Esse pavê….

– Relaxa… vamos lá… você está linda.

– Essa lasanha, está um pouco sem molho, você não acha, Edmar?

– Edmar, essa velha louca está me provoncando…

– Calma amor. Minha mãe gosta de muito molho. Você sabe disso.

– Eu sempre digo: Lasanha tem que ter molho… Senão perde o gosto. Não é mesmo, Rose?

– Sim, dona Olga. É Verdade.

– “Mimimi- mimimi… Dona Olga”… Vadia!

– Amor! Controle-se

– Ah, eu falei baixinho… não me tire do sério, Edmar.

– Eu?!?

– Éééé, você.

– E vocês, lindinhos, não querem mais a minha lasanha?

– Ah não, tia. A vovó disse que estava muito seca. Vamos esperar o pavê

– Mas não é possível, Edmar! Ela está doutrinando seus sobrinhos contra mim. É um complô da sua mãe com a sua prima. Aquela vadia tá querendo impor o pavê dela. A única. A única receita que essa limitada sabe fazer… a cretina quer me tirar do sério… Eu sempre falei que ela era a fim de você, Edmar… Edmar? Você está me ouvindo?

– Ô lê-lê. Ô La-la. Se o presente não vier, o bicho vai pegar! Pega mais uma cerveja para mim, meu amor?

– Pavêêêê!!! Oba… Tia, coloca um pedação pra mim!!!

– Claro… lindinho… pirralhinho….

– O que está acontecendo? Não vai comer Pavê?

– Não, Obrigada, Rose. Apenas vou servir… Comi muita lasanha.

– Você é que está certa. Tem que fazer regime mesmo. Na sua idade ainda por cima, que é mais difícil emagrecer…

– CHEGA!!! JÁ CHEGA!!!

-Amor…

– Que amor o escambau! Agora você me ouve? Seu pé de cana desenfreado!

– Mas o que é isso?

-O que é isso o que? Hein? A minha lasanha é muito seca, Dona Olga? Quem ta precisando de um “molhinho” é a sua pele, mais seca do que o Nordeste! A senhora está parecendo um maracujá de feira. Cansei de ouvir de uma velha rabugenta como eu devo cozinhar…

– Não Fala assim da minha tia!

– Ah, vá tomar conta da sua mulher que você ganha mais… Aquela vadia. Fica se esfregando em todo mundo no pagode!

– Eu?

– É isso mesmo… você!!! Cansei! Cansei! Cansei desse pavê todos os anos. Não aguento mais esse pavê!

– Tia, cadê o papai Noel? Cadê Meu?

– Papai Noel não existe, moleque!!!

-Oi meu amorzinho…

– Fala, Edmar!

– Tudo certo para o almoço?

– Sim… Todo ano a mesma coisa… sempre atraso, você me conhece. Mas, no fim, acaba dando certo.

– Não tem problema! Não tem problema! Aqui está o doce da Rose.

– Cadê o pavê?

– Não. Esse ano ela trouxe uma torta de morango. Parece estar deliciosa.

– …

– O que foi?

– É que eu gosto tanto do pavê dela. Comia quase metade sozinha.

– Amor?!?!

-O que foi, Edmar?

Enfim… É Natal.

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Os perigos do Cinema

Ir ao cinema. Um programa caracteristicamente de namorados. Pipoca, refrigerante, algumas balinhas como agrado para a companheira. Tudo perfeito. Ou não! Devemos tomar muito cuidado com o filme que iremos assistir. Isso mesmo. Não são todos os filmes que podemos confiar. Há situações extremamente desagradáveis, eu diria até humilhantes que podemos passar. Daí você pode me falar “é claro, não vamos ver filme de ação com ela”, e eu lhe digo que isso é um ledo engano. Filmes de ação têm apenas homens aparecendo e se batendo o tempo todo. Ela pode ficar brava, ficar entediada, mas nada, absolutamente nada é pior do que acompanhar uma mulher escultural o filme inteiro, sem olhar sequer um minuto para a sua namorada. Pois é… A coisa fica realmente feia para o seu lado!

Tudo está correndo perfeitamente bem. Sua namorada está feliz, com aquela blusinha que você havia dado de presente, só para lhe agradar. Entram na sala do cinema e pegam os lugares laterais… Mais privacidade. O filme começa e sua decência moral termina. A atriz principal, mocinha no filme, é um espetáculo de mulher e atua o filme inteiro com sensualidade. Você fica perturbado ao ver tamanha beldade. Uma mulher de 3 metros de altura (na tela do cinema), se insinuando, com inocência e malícia juntas, e você se limita a olhar. Olhar e olhar e olhar… Para a tela.

Sempre foi aquele cara pentelho no cinema. Que provoca, que tenta tirar a concentração, dar aquela namorada. Mas não! Você fica paralisado e não disfarça sequer uma vez. Ao entrar em cena a divindade humana, você até se ajeita na poltrona. Ela percebe, fica brava. Ela percebe de novo, fica muito brava. Ela nota que você está vidrado, fica puta! Nessa hora, ela não quer parar o filme. Ela quer parar com a sua vida. Porém, controlada, abraça você. Ao mesmo tempo, você percebe um “incômodo” no ombro, e se ajeita novamente. Sim, ela insiste em querer comentar sobre o filme na hora que aquele poema em forma de pessoa está atuando, de biquíni (é verão no filme, para ajudar), afinal, ela se produziu para você e definitivamente não é possível que você ficará olhando para aquele monumento de mulher (conceito seu). Ela nem é tudo isso (conceito dela). Você a ignora. Quando ela realmente fica transtornada, fala um monte de “verdades” para você, fala que vai embora, você vira para ela e diz “hum?”.

É rapaz, o fim de semana acabou. Ela sai calada. Qualquer coisa que você menciona, toma uma invertida com “pergunta para a vagabunda do filme, afinal, eu não existo”. E sério, não adianta dizer que é celebridade, que é personagem. Não adianta. Elas não vão entender. Se ela olha para um ator lindo, diz “eu não desejo, apenas admiro, agora vocês não, vocês só pensam em transar com elas”. E ponto final. Verdades e mentiras à parte (deixe sua consciência escolher onde colocar cada palavra), sua namorada é assim, porque as mulheres são assim. Experimente dizer que vai sair mais cedo da casa dela. Ela vai dizer “vai encontrar com a outra?”. Você emenda brincando “vou beijar um monte”. A resposta será “Ah é? Vai lá… e eu vou dar para o primeiro cara que eu encontrar na frente!”. Percebeu a diferença? Cinemas são perigosos.

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O último beijo na flor.

Sempre levei cada dia como último, pois para mim, a vida era muito curta para eu parar quieto. Por isso sempre viajei muito, e meu destino quem traçava era eu, indo e voltando, de um lado para o outro. Nessas viagens, tive centenas de amantes, com a liberdade de quem podia fazer uma espécie de circuito do amor.

Chamava de flor cada conquista minha, e de boca em boca levava um pouco do doce de cada beijo que dava. Sinceramente, acho que a variedade é que aprimorava os meus sabores… A história do circuito… lembra?

E as minhas flores, ah… Como caprichavam no visual. As cores que usavam é um capítulo a parte, me fascinavam, me atraíam. Porque,  permitindo o pobre trocadilho, um vestido, bem vestido é como um imã para mim. Vermelhos, laranjas, azuis, roxos… Suspiro só de lembrar. E lembrar, hoje, é a única coisa que consigo fazer.

Meus beijos tornaram-se artificiais. Minha última viagem não foi por liberdade, mas para cravar a falta dela. Pelas minhas asas, perdi a liberdade. Você pode perguntar  “ele cometeu algum crime?”. Te digo: Não cometi nenhum. Cometeram comigo.

Minha vida, que de verdade era uma vida, se abrevia, pois viver sem meus amores, não faz sentido. Um animal enjaulado, engaiolado, encarcerado, é um animal sem instinto. Hoje, as asas continuam aqui, por mero enfeite, a alma é que foi embora. E, nesta prisão forçada, torço para que cada dia seja o último.

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Néctar

Não há nada como tomar um bom whisky. Uma dose bem servida em um copo logotipado apropriado do mais puro néctar dos pensadores ativos. O stress diminui sensivelmente, trazendo a calmaria dos deuses para dentro da sua sala.

Você percebe sua concentração aumentando, os ruídos urbanos tornam-se coadjuvantes, e já não são mais um incômodo como há minutos. Nada importa mais do que o próximo pensamento. E nele, você reflete sua vida, a transforma, aumenta seu salário, ou até mesmo pede demissão. Não há problema, você é poderoso, nada pode te deter. Traça planos inimagináveis, fica rico com seus empreendimentos que vão bem, viaja o mundo, conhece lugares turísticos, sempre ao lado de uma bela companhia.

As ideias fluem na toada compassada dos movimentos anti-horários do copo em sua mão. A tranquilidade que passa ao ver aquela porção de cevada maltada liquefeita molhando sutilmente a lateral do seu copo. A cada gole uma ilusão, uma fantasia boa, um passo a mais para longe do mundo. A degustação é lenta, afinal, para que a pressa? O prazer está em chegar devagar ao ideal. A sobrevivência torna-se algo promissor, e não o martírio de instantes atrás, tornando, assim, a vida cheia de expectativas e benefícios. As risadas aumentam, porque, sim, seus amigos estão felizes junto de você. Todos. Reunidos em casas cinematográficas, em um churrasco animado e com requinte. Abraços, beijos, música, crianças as quais não sabe ao certo se são seus filhos, ou sobrinhos, ou, até mesmo… netos. Sim, por que não? São netos.

Estranhamente, aqueles mesmos ruídos urbanos já fazem parte da sua trilha sonora, mas tendo o mesmo efeito de violinos afinados e ensaiados regendo harmonicamente e exclusivamente para você. Nada, absolutamente nada atrapalhará o seu sucesso. O último gole traz saudade já daquilo que não veio. Mas ao olhar para frente, depara-se com mais dois terços de fantasias terapêuticas engarrafada e se anima, pois percebe que a noite demorará a acabar.

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Imortal

Ser imortal. Fascinava-me pensar na possibilidade de não ter doenças fatais, de ser contemporâneo, sempre, de qualquer fato histórico pós-nascimento. Sonhava com entrevistas como arquivo vivo, em ter mais tempo para mim, afinal, não precisaria ter tanta pressa assim.

Finalmente consegui! A fórmula da eternidade. Um segredo que não cabe aqui contar, mas sim apenas relatar o desfruto que obtive com essa exceção humana. A sublimidade desejada por deuses, reis egocêntricos, guerreiros vitoriosos, e outras tantas pessoas que, mesmo silenciosamente, mesmo não admitindo, queriam.

A imortalidade foi generosa comigo. Não fiquei um velho inválido, pois me desvinculou totalmente da cronologia biológica, ficando sempre apto, fisicamente, psicologicamente, para qualquer atividade mundana.

Muitas, mas muitas mesmo, pessoas passaram e passam pela minha vida. Mulheres, amigos, chefes, subordinados, garçons amigos, vizinhos chatos. Algumas de uma forma breve, outras com uma atuação mais duradoura. E o caminho sempre segue.

Mas, com o passar do tempo, todas as passagens acabam virando breves. O que são 30 anos em um ciclo eterno? A superficialidade das conquistas torna-se frequente, não sentindo mais o sabor bom do sucesso, tampouco a decepção da falha.

O sentido da vida inverteu-se. Não sinto mais frios na barriga por ficar na dúvida se será minha última oportunidade ou não. Não será a última! É fato. A sensação de aproveitar ao máximo todo o tempo do mundo não existe. Os passeios intensos, com roteiros programados meses antes para que nada dê errado, acabaram. Não me lembro mais como é estar nervoso por estar atrasado. Como é ter um melhor amigo. Meus cem últimos melhores amigos já se foram. A cumplicidade fica vulnerável, afinal, um amigo acompanha você nos melhores momentos de sua vida. Sendo imortal, não se tem melhores momentos. Passei a ser um espectador, absolutamente coadjuvante do mundo. Fiquei transparente. As pessoas marcantes, assim como os fatos, são justamente aqueles que acabam.

Estou aqui hoje. Estou aqui sempre. As pessoas mudaram, a tecnologia evoluiu a um ponto que nunca imaginaria se tivesse morrido. E como queria não saber. Caminho hoje totalmente a parte do mundo, com a minha sinestesia completamente comprometida por um estado vegetativo da alma, que acredito ter perdido ao conquistar o eterno. Alguns me perguntam “como é viver sabendo que não vai morrer?” e eu respondo “É ter esquecido o que é viver. É perder o sentido da vida. É vagar… É a loucura de não ver a hora de o dia acabar, com o martírio diário de saber que irá acordar na manhã seguinte.”.

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Dúvidas de Natal

Dúvidas de Natal – 1

− Pai, se o Natal é o nascimento de Cristo, por que o Natal não é o Ano novo?

− Como assim, filho?

− É. Pensa só. Ouvi hoje no Catecismo que os anos são contados de “antes de cristo” e “depois de cristo”… Então deveria ser no ano novo, não é?

− Hum… Pergunte ao padre semana que vem.

− Eu perguntei já

− E ele?

− Disse que eu estava falando em hora errada e atrapalhando a aula.

− Viu só? Olha o que dá falar fora de hora!

− Mas e a resposta, Pai?

− Hum… É por causa da mortalidade infantil, filho. Era muito alta naquela época, então eles esperavam uma semana para ter certeza de que o bebê não morreria.

− E o que é mortalidade infantil, Pai?

− Shiiiu! Quieto que eu estou vendo Tv. Lembre-se do que o padre disse sobre falar fora de hora!

− Mas, Pai…

− E se não for um bom menino, não ganha presente, hein!

− Mas eu sou um bom menino. Só queria saber se…

− Quer sorvete?

−Quero!

 

Dúvidas de Natal – 2

− Papai Noel não existe!

− Claro que existe, filho.

− É uma farsa, Pai. Você também é enganado! Como que ele consegue chegar meia noite em todas as casas ao mesmo tempo?

− Hum… Tá, não devia contar esse segredo. Papai Noel é ilusionista, filho!

− É mesmo?!?

− Sim… por isso que ele aparece ao mesmo tempo.

− Mas como ele faz isso?

− Hum… ele… ele… jogo de espelhos! É isso que ele faz!

− Ohhhh… incrível, Mas e como que ele entrega presentes diferentes?

− É… bem… hum… Sedex 10

− Oi?

− Quer sorvete?

− Quero…

2.1…

− Papai, como que o Papai Noel consegue estar ao mesmo tempo em todos os lugares?

− Já te disse que é jogo de espelhos!

− Mas e o fuso-horário? Se aqui no Brasil é noite, no japão já até passou o Natal!

− Olha, eu acho que se você está pensando todas essas besteiras é porque não está estudando direito. Deixa eu ver seu caderno de lição. Se estiver com notas ruins, Papai Noel não traz presente. O que aprendeu hoje na aula?

− Aprendi sobre fuso-horário, papai.

− Porcaria de escola… Quer sorvete?

− Quero!

 

2.2…

− Papai, nós não temos espelho na sala.

− E daí?

− Mas, se é jogo de espelhos, como que ele aparece na sala, se lá não tem espelhos…

− Hum… Isso era antes… bem antes… lá quando eu era criança. Hoje não é mais assim.

− E como é?

− Hum… Projeção 3D!

− Oi?

− Quer sorvete?

− Quero!

Feliz Natal!

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O Consertador de Lunetas

Penso em ir lá fora para dar uma volta na noite e aproveitar o clima quente, passear e espairecer. Acabo não saindo, já que é evidente que indo sozinho eu ficarei com frio. Preciso fazer o jantar, mas não quero cozinhar apenas para mim essa noite. Sei que acabarei ficando com fome, mesmo comendo a panela inteira sozinho… Não faz sentido? É o que mais falei para mim.

Então, quando peguei o DeLorean entendi melhor ao olhar tudo por outro ângulo. E nem adianta querer intervir e fechar a minha boca do passado… Nessa hora, a rua acaba antes das 88 milhas, eu abro os olhos e volto para hoje.

Por isso eu falo para você pegar sua luneta, porque eu já (ou finalmente) peguei a minha, e vi a paisagem que nunca tinha visto antes. Aquela mesma que você me falava enquanto eu lia o manual em chinês da minha luneta empoeirada e não entendia nada.

Mas, pelo visto, a sua luneta quebrou durante o tempo em que eu lutava, porque achava que minha terra estava sendo colonizada, e por isso agia como um índio quando, na verdade, não passava de uma revitalização, e que foi muito bem sucedida, por sinal. Hoje tenho tudo pronto para receber seu povo.

Porém, se há terra à vista, não é mais a minha, continuando ela a ser apenas uma ilha. O que resta é fazer o que sempre fiz, mas com menos capricho. Ter um hobby de volta, e dando voltas e voltas para voltar a jogar tênis aos finais de semana depois de ter vendido as raquetes.

O que sobra é fazer rir…

Rir por fora. Porém, sério, constatar calado aqui dentro… Eu sem você não tem graça.

 

Autor: Thiago Petrin

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O Burro e a cenoura

A minoria das pessoas é diferenciada por alguma capacidade de fazer algo realmente expressivo e de certo sucesso. As pessoas são meras coadjuvantes da vida alheia quase que o tempo todo, servindo de entretenimento, e, sinceramente, não vejo mal algum em admirar isso. A limitação da maioria acaba provocando um espetáculo de tragicomédia social. Ricardo Reis está certíssimo em dizer que o mundo é para ser assistido, afinal, se eles distraem você, por que não aproveitar? O tempo passa voando assim.

Isso não é diminuir, tampouco humilhar ninguém. É apenas um posicionamento social, aproveitando de cada um aquilo que podem oferecer. E eles alcançarão seus feitos também, ora essa. São coadjuvantes para mim, mas eles também têm os seus. Você acha errado colocar uma cenoura pendurada à frente de um burro, para que ele te leve a algum lugar? No final, ele pega o vegetal e você chega ao seu destino. Então! Uma hora eles também pegarão a cenoura.

Thiago Petrin França

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Ouvidos

Beethoven era um rapaz tranquilo. O nome, dado pelo avô – um dos músicos mais conhecidos da boemia carioca da década de 50, o obriga sempre dar a mesma resposta, para a mesma pergunta:

– Não, não toco piano. Meu avô que gostava de Beethoven.

Dizia não gostar de música clássica, mesmo sem nunca sequer ter tido o trabalho de ouvir alguma vez com atenção. O trauma de sempre ouvir as mesmas coisas, trocadilhos, piadas sobre seu homônimo o fazia distanciar da arte composta séculos atrás. Não preciso dizer que tampouco Beethoven tinha cachorros em seu apartamento.

Beethoven tinha uma vida comum. Próximo dos seus 30 anos, não dava ouvidos para aqueles que diziam a ele que precisava se ajeitar na vida, ter mulher, filhos, ou como dizem, constituir família. Andava noite adentro, pelos bares com amigos, aproveitando as malícias alheias. Não importa o estilo da casa noturna, não saía de casa para ouvir música, mas sim, para se divertir. Pessoas próximas admiravam seu jeito de levar a vida. Sempre alegre, risonho, o famoso “boa praça”.

Para o escritório em que trabalhava, dava adeus em meio a prantos falsos diariamente, arrancando risos daqueles que viam a cena. Porém, dessa vez, ao descer as escadas do prédio (os elevadores demoravam demais para alguém que deseja mais do que tudo a rua), Beethoven ouve algo. Um sussurro, com um tom de queixa. Olha para trás, para, pensa, ri e continua. Mas a voz volta e Beethoven, ao prestar atenção, consegue entender o desabafo “perdi o controle sobre ele, não consigo mais… fechei-o em um mundo que ficaria forçado tirá-lo. Terei de matá-lo”.

Ao ouvir isso, Beethoven olha desesperado para os lados. Uma estranha sensação o faz crer que a ameaça é para ele. Sente-se acuado. Assustado, procura a polícia.

– Eu sei que parece loucura, mas ouvi uma voz dizendo que tenho de morrer.

– Certo. Bom, senhor…

– Ah, sim, Beethoven

– Hum… O senhor toca piano?

– Não. Não toco. Mas eu não vi quem disse isso.

– Deveria tocar. É muito difícil tocar piano. A minha tia sempre quis me ensinar mas…

– Desculpe, senhor delegado, mas eu gostaria mesmo de saber o que eu faço.

– Pode entrar em uma escola. Nunca é tarde para aprender a tocar…

– Não. Isso eu sei. Quero dizer sobre o que eu ouvi.

– Olha, se você não viu quem disse, fica complicado ajudar. Acredito que seja estresse, afinal, ninguém sai falando essas coisas do nada. Pode ter sido algo da sua cabeça, um dia pesado no trabalho…

– Pode ser. Bem, muito obrigado.

Beethoven sai da Delegacia um pouco mais tranquilo, porém aquela frase ouvida ficava como um hit pop, repetindo e repetindo em sua mente, mesmo quando queria esquecer.

Voltando para casa, estava mais sossegado. Atravessando a passarela, porém, ouve novamente a voz. “poderia se jogar daqui de cima, mas não seria prudente…”. Beethoven então se desespera. “Como?”, pensava ele. Correu o restante da passarela, parou na banca de jornal do outro lado da movimentada avenida.

– Por favor, muitas pessoas se jogam dessa passarela?

– Por que quer acabar com a sua vida assim, menino?

– Não, meu senhor. Não quero me jogar é que…

– Como se chama, rapaz?

– Beethoven, mas isso não importa… é que…

– Você toca piano?

– Não, não toco, mas eu ouvi uma voz…

– Olha, menino, dê valor para a sua vida. Não a jogue fora por qualquer problema.

Visto que o caminho seria o mesmo do delegado, Beethoven desiste e simplesmente sai andando, sem dar mais ouvidos ao jornaleiro.

O apartamento vazio lhe trazia um silêncio insuportavelmente barulhento para seus ouvidos. Aquele desespero de não saber de onde vinha aquela voz. Aquela voz…

Ao ir para a janela, a fim de tomar um ar, ouve novamente a voz. “Suicídio? Não! Mas pode beber até a embriaguez o fazer cair da janela… Será?”. Beethoven se desespera. Pega sua garrafas e as joga no lixão do prédio. Toma água com certa dificuldade na tentativa de se acalmar. Decide então procurar uma resposta para isso. Concentra-se, fecha os olhos, não pensa em mais nada… Começa assim a ouvir mais e mais desabafos. Sim… Alguém tenta matá-lo, mas quem?

“Não posso decepcionar dessa vez. A editora tem que publicar… Eu sempre, sempre acabo caindo no mesmo problema. Fico presa à personagem e acabo dando finais óbvios. Mas dessa vez não! Vou matá-lo. Mas… como?”

Beethoven não entende aquilo que ouve. Como assim? Sempre? Personagem? Enfim, decide concentrar-se novamente.

“Não posso ter outro fracasso como em Dia e noite, macabra sensação”

Um estalo! Sim. Beethoven leu este livro. Procura tresloucado o livro em suas gavetas, no fundo de suas caixas. Tratava-se de um livro chato e insosso, em que as personagens eram todas iguais. Na metade do livro, Beethoven adivinhara o desfecho, passando as páginas apenas para ver se haveria alguma mudança bruta. Ele não acha o livro. Tem outra ideia e liga para o seu amigo Ricardo, crítico literário de um jornal da cidade, e pergunta sobre este título.

– Hum… Foi um fracasso. O livro era chato. Massacrei ele.

– Mas teve alguma consequência a carreira dessa mulher?

– Olha, ela ficou marcada, mas dizem que está escrevendo outro livro que será bombástico e…

– Sabe o nome dessa mulher?

– Sim. Francisca Teófila Xavier

– Obrigado!

E desliga o telefone. Apesar da ideia maluca em sua cabeça, decide procurar ajuda profissional. E nada melhor do que uma astróloga, com ênfase em numerologia, e especializada em metafísica contemporânea para ajudar. Era a namorada do primo de seu amigo da época de faculdade.

– Olá.

– Olá. Prazer, Beethoven.

– Ah, você toca…

– Não. Não toco.

– Ah… devia tentar apren…

– Eu sei… pensarei sobre. Mas podemos falar do meu problema?

– Ah, sim. Claro… Me desculpe. Olha, eu não vejo muitos casos como o seu, mas as suas energias, de alguma forma se cruzaram e a fizeram escrever alguém com a personalidade idêntica à sua, criando um magnetismo fictício-real que os estudos sobre o ser e seu universo paralelo mal conseguem explicar, mas o chamam de “paralelismo fictício-real…”

– Sério?

– Sim.

– E como eu faço para ela não me matar?

– Sério?

– O que?

– Que está me perguntando isso.

– Claro. Como eu faço?

– Ué, fala para ela para não matar a personagem…

– Simples assim?

– Sim.

– E como a encontro?

– Procurando…

E com o suspense em seu semblante, se despede de forma gestual de seu cliente… Claro que cobrando pela consulta.

Beethoveen passa dias de angústia, concentrado e esquivando-se de qualquer perigo do acaso. “Como vou sair dessa?”. Cansou de procurar o endereço da escritora. Não podia deixá-la encerrar o livro, caso contrário, o mataria. Decide então uma última tentativa, liga novamente para Ricardo.

– Você está louco Beethoven?!?! Elogiar aquela porcaria?

– Por favor!

– E por esse motivo maluco? Jamais.

– Eu sei, Ricardo, mas… Por favor…

– Olha Beethoven… Ok… Eu elogio.

– Lembra de tudo que eu disse, não?

– Sim, sim. A distribuição perfeita das personagens, o suspense, que espero que o próximo seja tão bom quanto e blá blá blá.

– Obrigado.

Beethoven aguarda ansioso sua mente trazer notícias da Serial killer de personagens. No dia seguinte, a notícia telepática vem. “Idiotas!!! Todos idiotas!!! Acham que me enganam? Vermes. Vou matá-lo, e matá-lo agora mesmo.”

Insanamente começa a escrever e Beethoven perde o controle de seu corpo. Levanta-se do sofá, corre em direção à janela e se atira. Ao chocar-se com o chão, ele acorda assustado. Olha para o lado e vê o convite para o lançamento do novo livro de Francisca Teófila Xavier, que Ricardo negara-se a ir devido às rusgas criadas pelas críticas da criação anterior da autora. Apesar de ter sido um pesadelo, sente-se finalmente salvo. Mas, quem seria essa assassina ocasional? Decide então ir ao lançamento. Afinal, além de conhecê-la de perto, um coquetel nunca faz mal.

Quando do lançamento do livro, Beethoven vai até a autora pedir um autógrafo. Prefere ser o último, para ter mais tempo para a sua análise. Depara-se com ela. Uma das mais lindas mulheres que já viu em sua frente. Seu queixo caído quase o impede de dizer…

– Oi

– Olá, autógrafo?

– Sim. Por favor…

Seus olhos vidraram naquele sorriso…

– Nome?

– Oi? Ah, sim, Beethoven.

– Bom gosto. Adoro piano.

– Obrigado. Meu avô que escolheu? Você toca?

– Um pouco. E você? Toca?

– Começarei aulas semana que vem. Deve estar morta de cansada de dar autógrafos. Não quer tomar algo depois da sessão?

– Claro.

É… Algumas coisas mudam de uma hora para outra…

 

Autor: Thiago Petrin (Baseado no filme “Mais estranho que a ficção”)

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Desespero de um Francisco

Deixo que as águas invadam meu rosto da forma mais bonita.

Caminhando na ponta dos pés,

Eu vou sair por aí afora,

Vagar pela noite, como se fosse a última.

Mas se a vida mesmo assim não melhorar,

O meu coração, quando eu me revelar,

Nunca terá meu sorriso.

 

Dono do abandono e da tristeza,

Olhando aquele inferno,

Esse meu sofrimento pode agora despertar o que me é de direito.

Esse silêncio todo me atordoa

Como se fosse o único espinho cravado em minha garganta,

Que é de comer e cuspir,

Que não deve nada a ninguém

E some nas altas da madrugada.

 

Luz, quero luz

Pra suportar e assistir mais um dia,

Seguir minha jornada,

Ver o inferno e maravilhas até não poder resistir.

 

O que será de mim?

Para um coração mesquinho

Um dia surgiu, brilhante, minha vida.

Olha o que é que eu fiz!

 

Me perdoe, por favor!

Eu era o rei que um dia a fogueira queimou.

Eu era um louco a perguntar

“O que é que a vida vai fazer de mim?”

Eu sei que fui feliz…

Quem sabe, eu fui feliz.

Foi tudo ilusão passageira…

Não vale a pena despertar!

 

Pode ser que você venha,

Por mero favor,para ver,

Ouvir que eu chorei,

Que eu morri,

Que estou louco,

Que eu estou sozinho! E tem mais.

 

Quando chegar o momento,

Essa palavra presa na garganta também pode ter seu valor.

Cada lágrima rolada no meu peito

Me leva para meu desencanto,

Que, seja lá como for, meus olhares evita.

 

Que vontade de chorar.

Gosto de me ver chorar!

Não querem mais ouvir as minhas mazelas

Que eu faço tanta questão.

De eu não ter como lutar,

Que o luar está chamando,

Que eu vou me conhecer inteiro,

Que eu entrego os pontos.

 

Que o meu desalento por me deixar respirar,

Por me deixar existir, já não tem mais fim.

Mas vou até o fim.

Como era de se esperar, amanhã tudo volta ao normal.

Seja o que Deus quiser.

 

Autor: Thiago Petrin França

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A razão da emoção

Imagine você no primário

Recebendo elogios da professora

Voltar para casa e encontrar sua mãe

Como se nada tivesse acontecido

Ou dar o primeiro beijo,

Sem sentir o coração pular,

Quase que saindo pela boca

Junto com o carinho do momento

O pedido de namoro,

De noivado…

O SIM!

Todos serenos

Imagine você sem o choro da alegria do nascimento

Da sua razão de viver ser apenas racional

Imagine só ouvir a primeira palavra

E continuar lendo o jornal para saber da política do país.

Pense, por um momento, o primeiro dia de aula

Sem aperto no coração.

Ou no dia em que se formar… e nada.

Imagine a felicidade sem emoção

O alívio sem a apreensão

É como o sim

Sem o não

A emoção está para ser sentida,

Ser medida

Mesmo não tendo como quantificar

Ou dimensionar

Os olhos entregarão

O sorriso denunciará

A emoção de ser feliz

E a felicidade de se emocionar

Autor: Thiago Petrin

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Qual é a pior solidão?

Estar em um lugar cheio de gente e ao mesmo tempo sentir-se completamente só. Estar sozinho, querer companhia, mas não conseguir saber ao certo de quem, ou não poder estar com ela.

Há aquela míngua de atenção que você teima não se abastecer, mas faz toda falta cada vez que olha para o lado e não vê nada. Nessas horas, sempre que aparece um espelho, você olha por mais tempo. Fica ali, com olhar fixo, algo como uma esperança ou uma vontade de que fosse outra pessoa ali, ou pelo menos ao seu lado. Então se apoia na cuba, encara, respira e sai.

Em público, você “mata a fome” da carência com “fast foods”. Pega um sorriso aqui, um “olá” ali, um carinho momentâneo acolá. Mas têm efeitos tão passageiros quanto são as pessoas que ajudaram.

Falam que é bom estar sozinho. Estar com “você mesmo”. Pode até ser que momentos de reflexão sejam importantes. Mas sim quando é um “estar” sozinho, não um “ser”, ou “sentir-se”. O maior desespero de uma voz é não ser ouvida. Todo mundo é mudo quando não há quem ouça o que está sendo dito.

Quando a sua melhor companhia está longe, ou você está no lugar errado, ou está escolhendo errado.

Autor: Thiago Petrin

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Leve

O jeito de levar a vida é deixá-la mais leve

O cotidiano já pesa tanto

A seriedade já pesa tanto

Os compromissos já pesam tanto…

 

Seja breve

Só se for para as tristezas

Deixe-as para a inerência que são do ser

E não as estimule

Seja leve

 

Afinal,

Se não estiver disposto a rir

Pode ir ao show do comediante mais engraçado

Assistir ao filme mais engraçado

Falar com o amigo mais engraçado

E não sorrirá nem de canto de boca

 

Agora,

Pode até não estar disposto a chorar

Mas, se houver algo realmente triste

Não conseguirá segurar

 

Riso contagia

Mas apenas àqueles que estão no mundo

Esteja nele

 

Se algum amigo te magoar

Lembre-se de tudo que ele já fez de bom para você

Se chatear algum amigo

Não se esqueça de pedir desculpas

 

Se chamar para dançar

Aceite

Se combinarem

Formem um par

Se não for seu ritmo

Apenas balance

Ele fará o mesmo por você

 

Deixe a inerência para o ser primitivo

Pegue o restante da essência que consegue dominar

E contagie-se

 

 

Autor: Thiago Petrin

Todo mundo se sente sozinho em algum momento.  Naquele, sozinho, você com você mesmo, com seu monitor, com seu copo. É a hora em que se pega com o olho arregalado, olhando atento, fixo para o nada. O olhar distante, que vai lembrar, procurar, achar, enxergar aquela pessoa que não está hoje. E que provavelmente não estará amanhã e nem depois, pois, se fosse para estar, não precisaria ir tão longe para achá-la, justamente na hora em que sua cabeça está vazia, pensando longe e sua pessoa sozinha. É nessa hora que você desperta, olha para baixo e reflete. Olha para o lado, onde está o copo. Toma um gole, pensa, suspira e respira… Fundo. E procura quem está mais perto. E se anima… Até a próxima olhada fixa para o nada…

Invejas Cruzadas

− Amor, vou sair hoje com o Ronaldo.

− Aquele seu amigo gay, de novo?

−Sim. Preciso ajudar com umas dicas para o buffet dele.

− Hum…

− O que foi?

− Nada, amor… Vai lá. Qualquer dia traga ele aqui para almoçar com a gente.

− Ainda bem que você é bonzinho. Beijinhos…

− Beijos.

− Amor? Olha o que eu trouxe para você!

− Nossa! Mas que jaqueta linda. Ei… mas nem é data especial nossa.

− E daí. Quero ver sempre meu marido bem vestido.

− Hum… Mulher, você tem outro e quer me agradar, é?

− Ai, que horror, Roberto. A gente não pode nem dar mais um presente.

− Sei. Hum… Então deve estar querendo alguma coisa. O que é?

− Ah, não é querendo comprar você, mas podíamos ir, no fim de semana, para praia. O que acha?

− Ok… ok… Vamos!

− Ai. Obrigada amor. Te amo!

− Olá, Rosa. Como vai?

− Bem, Amanda. E você e o Roberto?

− Ah. Arrastando né.

− Fiquei sabendo. Inclusive as meninas no salão disseram que apareceu um Príncipe aí na sua vida.

− Pois é, menina. Não paro de pensar nele. Falei até com o Roberto para irmos para a praia no fim de semana, para ver se assim apaga um pouco esse fogo que estou. Comprei um presente para ele e ele aceitou. E você com o Pedro?

− Ah, estamos bem. Farei uma festa surpresa de aniversário dele no buffet do Ronaldo.

− Ahhh, o Ronaldo é um amor… E um desperdício aquele homem lindo ser gay hein.

− Pois é, menina. Bom, mas espero que vocês se acertem.

− Ai, que inveja do seu casamento.

− Fala Roberto, beleza?

− Pedrão! Tranquilo e você?

­− Ah, cara. Mais ou menos. Sei que estou virando vitrola quebrada, mas acho mesmo que a Rosinha tem outro. Não sei o que faço.

− Mas como assim, cara?

− Ah. De novo saindo com aquele “amigo gay” dela que eu nunca vi.

− Ih, Rapaz. Sério? Por que você não a segue?

− Medo, cara. Medo de ver a verdade. Enfim. Não sei o que eu faço. Pior que tem a Paloma, do setor de vendas que está dando mole. Ela já é demais, ainda mais com a esposa vacilando assim… Mas eu sou uma besta que no fundo não consigo fazer nada.

− É, Pedrão. Você sabe que não sou o conselheiro mais certo para isso. Você me conhece… Ahhh Paloma… Dá mole para o homem errado hein. Se fosse comigo… Se minha mulher me ouve falando isso, me mata.

− Bom, penso nisso depois. E você com a Amanda, como estão?

− Poxa, Pedro. Estamos ótimos. A Amanda faz tudo por mim, me enche de presentes, é carinhosa… E agora quer ir para a praia. Acho que para ter uma segunda Lua de Mel ou algo assim. Senão até chamava vocês.

− Relaxa. A Rosa disse que estaria ocupada esse fim de semana também, provável que fazendo consultoria de novo para esse amigão gay dela aí.

− Entendi. Bom, mas espero que vocês se acertem.

− Que inveja do seu casamento.

Autor: Thiago Petrin

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Rapidinhas

No Trânsito

― Lúcia? Veja se não estamos esquecendo nada. Afinal, temos que atravessar a cidade toda vez que vamos almoçar na sua mãe.

― Está tudo aqui… Não, Adalberto… Espera! Está esquecendo a seta e o acelerador…

― Ué, Amor. Não precisa. Esqueceu que hoje é domingo? Bora…

Thiago Petrin

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Devaneio

Louco por pensar em poder existir

Sem enxergar a minha lucidez

Sempre tentando querer omitir

Esse meu medo que tanto me fez

Descontrolar a minha vida triste

Atmosfera em que eu me joguei

.

Que eu escapei da vida, foi por pouco

Não deixei o meu “eu vivo” solto

Enganei-me que não sou um louco

Por pensar em poder existir

.

Sem enxergar a minha lucidez

Não se conformam no que eu me tornei

O fim cavalga chegou a minha vez

Semblante triste da embriaguez

Sombras atacam minha sensatez

Da morte a ideia que eu me conformei

.

Autor: Thiago Petrin

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Corpos

Quero o seu toque

Te sentir em mim

Eu em você

Como tranças humanas

Nos fazemos um só

Suspiros contidos

Pelos lábios mordidos

Querendo gritar

Aos quatro cantos

Que não acabe

Suor

Sua boca na minha

Minhas pernas nas suas

Suas unhas em mim

Movimentos descompassados

Loucos

Intensos

Que as nossas anatomias entendem

E coordenam

Da forma mais prazerosa possível

Ao terminar

O peso tirado dos ombros

O grito tirado da garganta

O suspiro fundo se alivia

A tensão desfaz-se

Em um desafogado pedido

De quero mais…

E mais…

E mais…

Autor: Thiago Petrin

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Outro Planeta

Sempre quis ser um ser de outro planeta. Saber costumes, nomes, expressões e, principalmente, como são os seres de lá. “Será que tem três olhos, ou sete dedos em cada mão?” Pensava eu todos os dias em minha cama, viajando pelo Sistema Solar, tentando olhar as estrelas e ver algum movimento diferente do dia anterior.  Minha mãe insistia em dizer “filho, não existem… não existem”, mas eu não desistia. Sabia que um dia iria descobri-los.

Fui crescendo e pesquisando mais e mais sobre o assunto, sempre querendo provar para a minha mãe que eu estava certo, mas, além disso, queria eu estar lá e poder ver com os meus próprios olhos. Ouvir o dialeto e não entender nada, sempre achando que estavam planejando a minha prisão. Aprender a me comunicar. Fazer amizade com eles. . Ah, comunicar… A comunicação entrou em minha vida. Chats e grupos de pesquisas invadiram meu cotidiano. Artigos e mais artigos devorados nessa procura sem mapa, tampouco referências. Mas nada nessa vida é fácil, e com muita luta venci esse desafio, e finalmente consegui.  Hoje minha mãe fica deslumbrada ao saber das novidades desse planeta habitado.

Obrigado, Terra, por existir.

 

Autor: Thiago Petrin

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Para sempre começar bem o dia

Escreva cartas a amigos

Jogue com a vida!

Faça amor

Corra, pule, beba!

Viva!

Ame escrever,

Viva as cartas.

Pule os bêbados,

Faça jogos.

Beba do amor

Faça amigos

Jogue cartas

Ame correr

Pule ao jogar

Corra ao beber

Viva ao amar!

Ame os amigos

Viva ao escrever

Faça o fazer

Ame o amar

Pule com amigos

Cartas jogadas

Ame viver

Corra para amar.

10 palavras que pode resumir uma vida feliz. Tenha sempre um bom dia.

Autor: Thiago Petrin

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Você escolhe a história

O Show

Beto irrita, ali, a muitos, cantando, tentando alegrar enquanto Mari e a Betânia, além de Jorge, bem de frente, estavam em aplausos. Porém choraram, pois, incentivando, inclusive a beira de um ataque cardíaco, perceberam que o fim estava próximo. Ninguém sabia que eram amigos. Rita, ali também chega e os conforta, dizendo que eles, Regina e Tom estariam também  lá em cima, pois certamente haveria outros shows lá, e que mais tarde será esse o destino de todos. Ela queria muito encontrar com Tom. Zé, que estava correndo pra lá e pra cá, buscava notícias  sobre tudo o que estava acontecendo. Algumas horas passaram… Estavam todos lá. Luz e melodia surgindo, enquanto esperavam a entrada de quem jamais queriam que acabasse. Eram todos admiradores, de certa forma, porém, perceberam que, lá, tino era o que todos menos queriam por perto. Queriam era viver aquele momento sem chatices. Quando veio a percepção de que estava chegando e trazendo a realidade do que acontece, o sonho acabou.

O enterro de Wando

Beto e Rita Lee, a muitos cantando, tentando alegrar, enquanto Maria Bethania, além de Jorge Bem, de frente, estavam em aplausos. Porém choraram, pois, em sentir Wando, inclusive a beira de um ataque cardíaco, perceberam que o fim estava próximo. Ninguém sabia que eram amigos. Rita Lee também chega e conforta, dizendo que Elis Regina e Tom estariam também  lá em cima, pois certamente haveria outros shows lá. E que, mais tarde, será esse o destino de todos. Ela queria muito encontrar Tom Zé, que estava correndo pra lá e pra cá. Buscava notícias sobre tudo o que estava acontecendo. Algumas horas passaram… Estavam todos lá. Luiz Melodia surgindo, enquanto esperavam a entrada de quem jamais queriam que acabasse. Eram todos admiradores, de certa forma. Porém, perceberam que Latino era o que todos menos queriam por perto. Queriam era viver aquele momento sem chatices. Quando veio a percepção de que estava chegando e trazendo a realidade do que acontece, o sonho acabou.

Autor: Thiago Petrin

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Ainda bem…

Estamos em uma época em que a poeira está saindo um pouco mais de debaixo do tapete. Ministros caindo por falta de resultados, deputados que faltam muito e que são divulgados na imprensa, nepotismo sendo crucificado cada vez mais, desvios de verba denunciados pela Polícia Federal, calotes internacionais, antigos corruptos saindo de seus cargos. Chega a ser impressionante como parece que só as pessoas ruins e aproveitadoras chegam ao poder. Imagine esses seres no cotidiano do anonimato. Ainda bem que não estão por perto.

Carlos Bezerra, por exemplo. O deputado do PMDB é o recordista em faltas na Câmara, com mais de 50% de ausências. Imagine ele em um emprego comum. Vejam só, ele não gosta lá muito de trabalhar. Tenho certeza que iria alegar aquela dor de barriga repentina algumas vezes, apenas para ficar em casa. Claro que o Palácio do Planalto permite faltas aos montes. Em um emprego comum ele teria que controlar esse ímpeto, mas de vez em quando… ainda bem que estão divulgando. Assim ele nunca mais é eleito, não é mesmo? Ainda bem…

José Sarney. Ex-presidente do Brasil, líder do Senado. Um motivo de análise profunda do porquê ainda está lá, com o nosso voto ainda por cima. Não é possível. Será? Enfim, imagine ele precisando indicar alguém para a “firma” de que é funcionário. Ou melhor ainda, ele como gerente de RH, entrevistando vários candidatos, competentes, mercado exigente que é, seja lá qual for. Mas tem aquele primo, que é como um amigo de anos, como irmão mesmo, precisando de emprego. Não é a área dele, mas, ah, ele está lá. Acompanhará, e será possível acobertar algumas coisas até ele pegar o jeito. Só precisar dar algumas dicas do que colocar no currículo, afinal precisa passar por superiores a aprovação, mas a indicação dele vale muito. Nossa, ainda bem que ele está em Brasília. Melhor deixar ele lá no Senado, longe de nós…

Ahhhh, não podemos nos esquecer de Orlando Silva. Sumariamente demitido por denúncias de desvio de verbas. Ainda bem que ele não é um cidadão comum. Imagine só ele, por exemplo, como um representante de vendas. O cara trabalha na rua, almoça e pega a nota fiscal para comprovar os valores, depois é reembolsado. Algo correto e transparente. Mas… vocês acham que ele não ia fazer prontamente amizade com o dono de restaurantes e padarias? “Ei, gastei quinze reais, mas faz uma nota de vinte e cinco aí? Tô sempre aqui, não é?” Seria um absurdo isso… Ainda bem…

Falando em futebol, lembrei-me de Ricardo Teixeira. Esse parece que era aproveitador e não respeitava muito as pessoas. Isso que é o pior. Certeza, mas certeza que ele furaria fila do banco, encontrando aquele “velho” amigo, lá perto do caixa. Esse cara não respeita ninguém. Ainda bem que ele tem motorista particular. Imagine ele dirigindo! Iria fechar todo mundo, dane-se se é ciclista ou pedestre. Afinal, o compromisso dele sempre é o mais importante do que os dos outros. Imagine… imagine o maníaco que ele seria. Se disse que estava “cagando” para os jornalistas que o acusavam, e disse isso para uma mulher, ele iria é arrumar brigas e brigas no trânsito. Fora que é bem do perfil dele ficar parando em vagas de deficientes, ou em guias rebaixadas. Vocês acham que Ricardo Teixeira seria pego em uma blitz de bafômetro? Claro que não. Com certeza que ligaria para algum amigo policial, que o livraria dessa. Ainda bem que todos eles estão bem longe de nós. Definitivamente a sociedade seria um caos.

Autor: Thiago Petrin

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Almoço

– Nossa, Nossa, assim você me mata…

– O que é isso, o que é isso… por que você está cantando isso?

– Ah, é gostosinha de ouvir.

– Eu estou ouvindo e não é nada gostosinho. Futilidade, viu…

– Ok… Ok… o senhor viu essa greve de caminhoneiros que está havendo? Falta gasolina nos postos e os que têm cobram até cinco reais o litro…

– Porque são burros, esses motoristas. Custa ir de ônibus um dia trabalhar? E o metrô está aí por quê?  Aí que esses caminhoneiros crescem. Ficam dando ibope para eles.

– Entendi…

– Eu acho uma babaquice essa atenção que dão… Todo mundo falando disso.

– Ok, pai. É… e onde está esse prato que não chega… Estou morrendo de fome.

– Eu também… Pelo menos tenho o meu jornal. As pessoas têm que ler jornal, coisas que as façam ficarem mais cultas… Não que nem você… Olha aí…

– Pai?!?!

– Só estou falando. Só estou falando…

– Nossa, o senhor viu? O que o Bial disse ontem no BBB?

– Big Brother… Uma canalhice que está há mais de 10 anos no ar. Nunca vi tanta mediocridade na televisão.

– Nossa. Desculpe. Só estou comentando o que todo mundo fala.

– A maioria é burra. Seja diferente… Deixe-me ler em paz…

– Ok…

– Hum…

– O que foi, pai?

– Saiu uma reportagem que esse Michel Teló está fazendo show na Europa inteira… E a mulher dele quer metade da grana que ele ganhou. Que coisa. O sucesso destrói casamentos.

– É…

– Olha aqui! Na primeira página… “Postos aumentam o preço do combustível em até 100% por conta da paralisação no abastecimento”, dizem que vão abaixar depois que solucionarem… Duvido.

– Eu também, pai… Eu também.

– Hum…

O que foi agora?

– Aqui, primeira página. Essa Renata, que foi eliminada é ninfomaníaca. Mas ela nega. Será que é mesmo? Ela é bem bonita…

-Pai?!?! Eu que vou saber?  A mãe que vai gostar de saber que o senhor fica pensando nisso.

– O que é isso minha filha… Apenas li.

– E esse pedido que não vem. Puta assunto chato esse.  Jornal… jornal… coisa de velho…

– Olha esses modos…

Autor: Thiago Petrin

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A Dançarina

– Para onde vamos hoje, Carlos?

– Não sei. Vamos parar em algum bar e decidir

– Você sabe que vamos ficar no bar, não é?

– Claro que sim! Meu caro Artur, você sabe que sempre acontece isso. Vamos!

– Nossa. Mas que garçonete gostosa!! Deve ser nova aqui

– Siiiimmm… Tem certeza que estamos no bar certo?

– Olá rapazes. O que vão querer?

– Uma cerveja e dois copos, por favor.

– Artuuuuurrrr, que sorriso que ela tem hein? Deus pai.

– Prontinho. Mas como vocês pediram exatamente a senha do bar, vão ganhar uma dança minha.

– O que?!?! Moça, eu sou casado…

– Cala a boca, Artur. Deixa a moça dançar

– Carlos, o que está acontecendo?

– Tem uma moça, gostosa, dançando para a gente e tirando a roupa. Precisa saber mais?

– Ok. Ok.

– Estão gostando? Me possuam agora!

– Ãhn? Aqui? Já?

– Sim! Agora mesmo!!!

– Ok!

– Carlos?!?!

– Cara, quando isso vai acontecer de novo?

– Ok.

– TIRE AS MÃOS DA MINHA MULHER!!!

– Quem é esse cara?!?!

– Eu vou lá saber, Artur. Só sei que ele não está para amizade hoje.

– É Meu marido… Seu tarado… Eu sou uma profissional. Era para ser uma dança sensual apenas. Amor, eles estavam querendo abusar de mim!

– O que?!?! Não… Não Não Não Não Não. Ela que veio se oferecendo!

– Você está chamando a minha mulher de vadia?

– Diga que não, Carlos. Diga que não, Diga que não, Diga que não,

– Sim!

– É sério, Carlos. Você viu o tamanho desse cara? Não sei você, mas eu adoraria continuar vivo, e sem sequelas.

– Ele não pode chegar aqui e falar o que quiser.

– Sim! Ele pode. Ele é grande. Ele é forte. E ele está muito, mas muito bravo.

– Vem aqui que eu vou arrebentar você… Seu… AH!!!

– Cuidado Carlos!! Nããão!!!

– O que você fez?

– Eu matei ele! Não está vendo?

– Meeeuuu, Por que você fez isso?

– Ah, eu não aguentava mais esse jeito bruto dele. Não gosto dele, nunca gostei. Esse brutamontes nojento. Casei por falta de opção. Ele foi bom comigo no começo, mas, depois, se tornou um sujo e ignorante…

– É isso mesmo! Canalha!

– Carlos?!?!

– O que foi? O cara ia matar a gente de pancada… ta certa ela. E aí, docinho? Está entediada como eu com essa história toda? O que acha de continuar aquela dança?

– Você ficou maluco? Tem um cara imenso, morto, do nosso lado.

– Deixe ela dançar…

– Quem? A Assassina? Ah sim… como não… Dance!

– Agora é sério, Artur. Precisamos chamar a polícia.

– Até que enfim uma coisa certa que você me disse.

– Mas precisamos falar que foi um assalto.

– O QUE!?!

– É… Coitada da moça… Ela dança tão bem!

– E mata melhor ainda! Mas você está completamente pirado, não? Vamos embora!

– Ok.

– Me desculpe cara. Perdi a noção com a dança daquela mulher. Fiquei hipnotizado.

– Tudo bem. Não tem problema. Mas… Onde está você? Por que ficou para trás? E… Carlos?!? Por que você está com essa faca?!?!?!

– Ahhhhhh!!!!

– Pronto! Feito!

– Isso, meu lindo. Ele agora não vai mais atrapalhar a gente. Podemos fugir e… ARTUR?!?!

– Sim! Sou eu.

– Mas… Como??? COMO?!?! Eu matei você.

– Eu imaginei. Sempre desconfiei de vocês. Desde aquela viagem pra a praia. Vocês não paravam de se olhar!!

– Mas como você está vivo? E falando!!! Eu esfaqueei você!!! E de que praia você está falando?!?!

– Não importa como estou vivo… Que praia? Que praia? Aquelas férias na casa de praia do meu sogro…

– Mas Artur, você está maluco… Você está falando da sua mulher! Cadê a sua mulher?

– Não se faça de louco. Olhe para o seu lado!

– Ah?!?! O que? Mas… Magda? O que faz aqui?? Onde foi parar a dançarina?

– Que dançarina?? Está vendo essa faca? Eu tirei de mim e vou matar… VOCÊS!!!

– Vai matar quem, querido?

– Oi?

– Oi, amor… Você estava falando aí deitado!! Deve ter pegado no sono. Matar quem?

-Ãhn? Magda?!?!

– Nossa! Magda? Tudo bem que você está aqui comigo, mas não precisa querer matar ela. Eu já sei que você me ama mais do que ela… Vem aqui me dar um beijo…

– Não posso, linda. Lembre-se que o Carlos já vai chegar.

– Deixa o meu marido pra lá… Venha aqui…

– Você ta ficando maluca mesmo… Preciso ir. Disse para ele que nos encontraríamos no bar hoje à noite. Vou chegar antes para não dar bandeira.

– Por falar nisso, eu comentei com o Carlos de ele negociar com o dono do bar de eu fazer meu número de dança do ventre lá. Estou parada de serviço mesmo.

– …

– O que foi?

– Acho melhor não! Beijos… Fui!

Autor: Thiago Petrin França

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No Bar

O bar está cheio, muitas pessoas e olhares se cruzando. No meio da multidão, dois olhares teimam em se encontrar. Na verdade o olhar dele teima em procurar o dela…

“Nossa! Que gata!”

“Ele ta olhando pra mim mesmo?”

“Mas ela não ta dando a mínima pra mim… a mínima!”

“Não vou dar na cara! Não vou dar na cara…”

“Opa! Ela olhou. Mas… Foi para mim? Merda de dúvida. Vou dar uma volta e ver se ela olha de outro ponto.”

“Ué? Cadê ele?!? Ele acha que vou ficar atrás dele? Coitado… “

“Olhe, vamos lá! Olhe…”

“Mas o cretino não volta nunca. Deve ter se enroscado com outra já! E eu aqui achando que era comigo. Homem é tudo igual. Ô raça…”

“Droga! vou voltar para lá”

“Ele voltou. Controle-se, não vai dar bandeira!”

“A filha da puta não olha. Mas ela tinha olhado, eu tenho certeza!”

“Vou mexer no cabelo para ver se ele se mexe e vem pra cá”

“Ahhh mulher… mexendo no cabelo né? Eu sabia! Mas… é para mim isso?”

“Ah, é isso? Ele não vai se mexer?”

“Vou lá agora! Vamos lá, garotão!”

– Olá, tudo bem com você moça?

“Merda! cheguei atrasado”

– Oi! Você por aqui? Há quanto tempo!

“Ah, vou caçar! Perdi meu tempo aqui com essa aí. Ó lá! Dando maior bola para o cara. Mal conhece e já está cheia de graça… Eu sou uma besta. Devia estar olhando para ele”

– Eu vi você aqui com o olhar meio perdido. Procurando alguém?

– Não, não. Assim, estava olhando para um cara, mas o frouxo não chegava em mim nunca. Deve ser gay, ou muito mole. Mas me conta, e a sua namorada, como está?

– Ela foi ao banheiro. Já está voltando para cá.

“Olha lá ela ali… Oferecida”

“Frouxo”

Autor: Thiago Petrin França

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Verão

− Quente, não?

− Bastante. Verão é assim né?

− Não é Primavera?

− Não. Ela termina em 21 de Dezembro.

− Ah sim. Verão… Está indo passear?

− Sim. Preciso ir ao centro.

− Quer uma carona? Esse sol está de matar…

− Se não for atrapalhar eu aceito sim.

Assim começou. Um encontro no elevador do prédio. O assunto no carro foi variado. “De onde você é?”, “Trabalha Onde?”, “puxa vida, eu também, que coincidência” e outras coisas comuns de um primeiro contato aconteceram. Ele, é claro, dirigiu o mais devagar possível, levando buzinas e ultrapassagens nervosas. “Hoje em dia só tem louco nas ruas não?” dizia ele, sempre sorrindo.  Marcaram de conversar mais a noite. Encontraram-se, tomaram umas bebidas, com a conversa cada vez mais interessante. “Como se parece comigo” pensavam ambos. No fim da noite o primeiro beijo. Um pouco tímido, por parte dela. Um pouco afoito, por parte dele. Ela entra no apartamento sorridente e com a mão no telefone. Afinal, a amiga precisa saber. Ele olha para a cidade da sacada, querendo descer para continuar o que havia começado.

A semana que seguiu foi maravilhosa, com passeios e namoros de fim de tarde. Bares noturnos e conversas agradáveis. Aquela sensação boa de encontrar uma pessoa especial. Ao presenciar os fogos de artifício abraçado com ela, da areia da praia, trouxe a lembrança de uma antiga namorada. A emoção da virada de ano e as promessas de tornarem-se pessoas melhores potencializaram a atitude da consciência de ambos, com promessas de visitas à Maceió (casa dela) e Curitiba (casa dele). Contatos foram pegos, telefones e um beijo de despedia no dia seguinte deixaram a certeza de que seguiria firme e forte o relacionamento. A primeira semana foi de contato constante. Ligações, e-mails, conversas on-line. Mas também trouxe broncas dos pais pela conta de telefone alta, brigas com os irmãos por monopolizar o computador, enfim…

Ele passou na faculdade noturna e trabalhava durante o dia contando os centavos para a mensalidade. Ela fazia faculdade integral, pública, e participava de eventos na cidade aos finais de semana para levantar um dinheiro e ajudar em casa. A logística não ajudou. Algumas mensagens e e-mails, que foram diminuindo com o tempo, diziam que as coisas melhorariam e que passariam o réveillon juntos novamente e tudo daria certo.

Dia 21 de Dezembro, ele se lembrou que o Verão começava e uma boa lembrança veio em sua mente. Foi novamente para o litoral de São Paulo passar a virada de ano na casa do padrinho, enquanto ela viajara novamente para passar com seu pai, que mudara para São Paulo após a separação.

− Oi. Há quanto tempo!

− Pois é… Um ano não?

− Sim. Foi ano passado que nos vimos

− Vai ficar até a virada?

− Sim, sim… Meu padrinho né!… Nos damos muito bem!

− É verdade. Bem, bom ano novo para você, caso não dê para nos encontrarmos mais.

− Pra você também!

Ela foi embora de mãos dadas com o namorado de Maceió. Ela queria conversar mais, mas seria uma situação chata com o namorado recente. Seria o primeiro réveillon juntos. Uma sensação estranha veio a sentir, mas que percebeu apenas ser uma lembrança boa.

− Quem é ela?

− Oi? Ah, uma menina aqui do prédio.

− Isso eu percebi. Mas pareciam ser bem amigos.

−Ah sim. Antes sim. O pai dela mora aqui agora depois que se separou da mãe… Uma coisa assim. Daí ela passa o ano novo com ele e Natal com ela. Vamos comer onde, amor?

Realmente não se encontraram mais naquele ano. No seguinte, ele teve de explicar para o padrinho que não passaria lá, pois tinha de viajar com a família da namorada. Nada que uma boa conversa não deixasse o clima bem, é claro que com a promessa de no ano seguinte não ter desculpa. O pai acabou mudando de cidade, saindo do litoral e indo para a capital paulista, obrigações do emprego. Os e-mails acabaram extinguindo-se por completo, não havia sequer mais assunto para ser tratado. Como o pai dela ainda tinha muitos amigos no litoral, decidiram, anos depois, passar o réveillon por lá. Ela estava separada há algum tempo já e precisava realmente distrair a cabeça. O padrinho esperava ansiosamente por ele, afinal, a promessa de passar a virada de ano seguinte juntos não foi cumprida, nem as seguintes. A namorada era muito possessiva, motivo inclusive que o fez terminar o relacionamento.

Como não queria fazer o padrinho, que já estava com certa idade, andar naquele sol, se colocou a disposição para comprar os pães ele mesmo. Ao chegar à padaria se cruzaram. O cumprimento foi inevitável. Um sorriso leve dela e um mais cara de pau dele – afinal sempre foi uma moça muito bonita – ilustraram aquele momento. Após isso, ele voltou para a casa do padrinho e, no elevador, finalmente se lembrou quem ela era. Ela, por sua vez, lembrou-se mais rápido e comentou com a amiga que ele tinha engordado um pouco.

Autor: Thiago Petrin França

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O Ataque

A hora havia chegado! Naves por todos os lados fazendo jus à fama de maior artilharia aérea do planeta. Sempre muito rápidos e precisos, destruíam qualquer inimigo que encontrassem pela frente. As luzes demoníacas acendiam, avisando a chegada dos que iriam fazer a destruição em massa de toda uma nação. Espertamente, o garotinho se infiltrou no exército inimigo e roubou o plano do General Mor. Tarde demais, o General já estava com todo o plano na cabeça. Mesmo assim, poderia servir pelo menos como defesa. Seria muito difícil, mas era a única chance de sobrevivência. Ele levou rapidamente o plano ao General de seu exército. Este analisa, vê uma brecha que pode, sim, servir como esperança. Tudo tinha de acontecer muito rápido. As naves estavam já se posicionando para o ataque. É bem verdade que a soberba os faziam demorar mais, visto que tinham a certeza da vitória. Estavam ameaçando várias vezes, chegavam mais perto, depois se retiravam, como se estivessem fazendo uma tortura mental. E estavam! Porém, mal sabiam que estavam, além da tortura, provocando e mexendo com os brios dos pobres, mas valentes guerreiros adversários. O Plano estava traçado. O contra-ataque, se bem encaixado, seria mortal. Atiraram primeiro com uma de suas piores armas, para provocar a reação, com certo descaso, justamente para pegá-los desprevenidos. A reação aconteceu, rápida e precisa. Não tiveram nenhuma oportunidade de contra-atacá-los. Mesmo displicentes e com certo descaso, eliminaram o inimigo sem dar brechas. Como se estivessem batendo em bêbados maltrapilhos, eliminavam um a um, fazendo mais uma vez valer a fama de maior e melhor artilharia do mundo. Um massacre!

Autor: Thiago Petrin França

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Decisão

Há momentos na vida de um homem em que se faz necessário tomar decisões. Mas não do tipo “o que vou almoçar hoje”, ou “será que saio com a Margarida ou com a Rosa”, não! Decisões importantes para todo um segmento de uma vida, e que mudará o rumo dos acontecimentos. E esse momento chegou na vida do Elisandro.

Rapaz comportado, caseiro e estudioso, Eli, como era conhecido entre os amigos, era o grande orgulho de seus pais. Nunca fumara, bebera, jogara, enfim, um moço bem comportado. Como lhes disse, Eli não saía muito, não conhecia os perigos que uma sociedade pode trazer. Ele conheceu um novo amigo de nome Caio, que não se conformava com a falta de atitude em Elisandro (não eram tão amigos assim para ser chamado de Eli). Via naquele garoto algo que ninguém havia notado antes, que nele estava um sentimento preso de angústia, e que aquela cara de bom moço apenas camuflava uma vontade desenfreada de mudança.

Evidentemente que Eli negava, dizia que Caio estava louco. “Como pode você, que me conhece há tão pouco tempo, querer saber mais de mim do que eu mesmo?” Mas a amizade não era afetada. A vontade de se verem ia aumentando cada vez mais… Ao Shopping da cidade, Sandro (como passou a ser chamado por Caio), passeava sempre na companhia do seu novo melhor amigo. A família começou a se preocupar. “O Eli está ficando um pouco diferente, não conversa mais com a gente”, dizia a mãe do menino. Enquanto isso, os amigos de Eli se afastaram, vendo a mudança radical de comportamento do amigo. Sandro começou a chegar tarde em casa, faltar nas aulas para sair com Caio (sem que a mãe soubesse), tirar notas ruins, sair quase todas as noites, enfim, transformou-se completamente. A situação foi piorando ainda mais quando Sandro comunicou a família de que iria sair de casa para morar com Caio!!! Os pais de Lili (como era conhecido quando criança) queriam saber o motivo dessa decisão radical e sem o menor planejamento. A única justificativa que Sandro dava é que naquela casa se sentia acuado para seguir a opção de vida a qual escolhera. Depois de muita choradeira e pedidos para que ficasse Sandro saiu definitivamente de sua casa.

Duas semanas se passaram e nada de Eli mandar notícias. Caio muito menos. Pelo jeito estavam felizes morando juntos. A mãe de Eli passou a tentar continuar a vida sem a presença do filho homem da casa, mas era difícil. Mas foi uma decisão tomada pelo próprio Sandro. O que se poderia fazer. Três meses depois vem a notícia. El loco Sandro e Caio navalha foram presos após meses de investigação da polícia local. Foram encontrados no apartamento que compraram juntos com o dinheiro do tráfico, com seis garotas de programas. O alto volume do som facilitou a entrada da polícia no local para prendê-los… No apartamento foram encontradas armas, jóias e algumas drogas. Enfim, seria bem melhor que o motivo da saída de Elisandro de casa tivesse sido o que sua mãe estava desconfiando. Talvez a intensidade do preconceito fosse a mesma de agora, mas, pelo menos, estariam de bem com a vida.

Autor: Thiago Petrin França

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Vingança Florestal

Certa vez, na floresta, a Raposa queria ter um filho. Mas havia um problema: Ela era solteira. Não queria se casar, pois, apesar de ter muitos pretendentes, não achava que era hora de se compromissar. Sabe como é, dar satisfação ao marido, dizer aonde vai, aonde deixa de ir, cozinhar, lavar, passar… Enfim… Mas queria ter um filho. Como a constituição florestal proibia ter filhos sem que se estivesse casada, pensou em conversar com a Cegonha para ver se a voadora conseguia um bebê “extraviado”. Cegonha, bebês, funcionária pública, era lógico que conseguiria. Porém, o que ela menos esperava era que, justo a cegonha que conhecia, não fazia esse tipo de serviço. A Raposa tentou até “molhar a mão” da Cegonha com algumas moedas, mas nada! Inclusive, a Cegonha ameaçou denunciar às autoridades:

– Me desculpe Raposa, mas não tenho como fazer…

– Eu entendo… Quanto você quer?

– QUEM VOCÊ PENSA QUE EU SOU??? Olha aqui, se não sair agora da minha frente, vou entregá-la à polícia hein!

– Pela Juba do Rei Leão, para que isso? Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

A Raposa saiu muito brava. Ora bolas, que diferença faria uma raposinha extraviada? Decidiu então se vingar.

– Querida Cegonha, vamos deixar de lado essa confusão toda. Por que não vem jantar em casa hoje à noite? Coisa boba, alguns amigos, comida simples. O que acha?

A Cegonha desconfiou, analisou, e decidiu aceitar. Afinal, que mal faria fazer uma nova amizade? Pontual, a Cegonha chegou ansiosa para o banquete. Na residência da Raposa já havia alguns amigos em comum do alto escalão florestal. A Cegonha estava radiante com o evento. Sempre tímida, mal costumava sair de casa. Conversa fora, fome aumentando e, enfim, a hora do jantar.

A Cegonha nota que sua amiga felina começa a colocar utensílios os quais não conhecia. Eram conchas. A entregadora de bebês, que já estava um pouco desconfiada, ficou totalmente desesperada quando a Raposa gritou da cozinha:

– Esperem para experimentar esse caldo de carne ma-ra-vi-lho-so que eu fiz!

– Caldo?!? Santo Deus! Deus, Deus, Deus… O que eu faço?? Pensou a Cegonha já totalmente fora de si. Chegou à conclusão que tinha duas opções. Primeira, simular um enfarte e começar a se retorcer no chão. Segunda, virar a mesa ferozmente, mostrar total desequilíbrio emocional, ameaçar todos com uma garrafa e depois alegar ser uma palotogia rara. Mas não dava mais tempo, a besta da Raposa chegou com seu caldo de carne.

Todos lambendo o caldo com a maior cara de satisfação e a Cegonha tentando, em vão, beber com seu bico comprido e desengonçado. A Raposa, rindo muito da situação da sua “Amiga Parteira”, diz:

-Vai amiga, não está gostando da minha comida?  E todos riram da pobre ave.

A Cegonha percebeu as intenções da sua amiga. Por um curto momento de insanidade pensou em pegar o caldeirão fervendo e virar na cara da Raposa. As macas eternas em seu rosto a fariam se lembrar sempre de sua atitude. Refletiu melhor e decidiu que não valeria a pena. Resolveu se portar, deixar que zombassem dela, e… Vingar-se.

Passado alguns dias do vexame, chegou para a Raposa, e disse:

-Então Raposa, gostaria de retribuir o jantar. Vamos comer em casa hoje à noite?

A Raposa pensou, analisou e decidiu aceitar. Chegou à conclusão de que a Cegonha era uma pateta. Mesmo depois da vergonha que a fez passar, ainda sim decide retribuir.

Quando a Raposa chegou à residência da Cegonha, a casa estava repleta de amigos. Muitas  conversas, risadas e nada de comida.

Enfim o momento esperado. A Raposa não tinha nem tomado café esperando esse jantar. A Cegonha traz lentamente uma… Bandeja?!? “Caldo não se coloca em bandejas” – pensou a Raposa. Mesmo assim aguardou. Suas esperanças chegaram ao fim quando a Cegonha disse:

-Olha que Tofú de-li-ci-o-so.

A Raposa permaneceu paralisada, a Cegonha tinha mesmo se vingado. O pior de tudo é que entre os convidados estava o chefe da repartição em que a Raposa trabalhava, não podia nem sequer esmurrar a Cegonha de raiva. Iria ser um vexame.

O jantar desenrolando e a Raposa nada de comer. Experimentava levemente o tofú, mas sendo carnívora, como poderia suportar aquilo? A Cegonha então aproveitou a oportunidade e deu a cartada final:

– Vamos Raposa, coma um pouco! E continuou – Inclusive, realmente não será possível ‘‘extraviar’’ um bebê para você… não posso fazer isso!

A Raposa ficou perplexa, havia sido um golpe sujo, muito sujo. Todos à mesa ficaram indignados com a atitude da Raposa, até aqueles que já fizeram o mesmo. O chefe da Raposa marcou uma reunião de “rotina” com ela na manhã seguinte, e a Raposa nunca mais fez algo parecido com alguém.

Autor: Thiago Petrin França

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Amizade

 

            -Não é demais?

            -Não

            -Como assim “não”?

            -Não! Que porcaria é essa?

            -Como porcaria?!? Fui eu que fiz! Observe os suaves contornos. As cores sutis, que nos dão a impressão de que os pincéis estavam dançando valsa na tela durante a pintura. Não acha?

            -Hum… Não!

            -Observe bem…

            -Na boa… Não!

            -Mas você não tem a menor noção de arte mesmo hein?

            -Olha, se eu não tenho noção eu não sei, até porque não vi nenhuma arte hoje, mas você com certeza não tem.

            -Sério?

            -Sério!

            -Mas cara, eu gostei tanto…

            -É, mas está muito feio… De verdade.

            -Então eu vou jogar fora. Fazer o que não é?

            -É melhor mesmo.

            -Pode ser que meu sonho de ser pintor vá por água abaixo depois de me desfazer dessa pintura…

            -Hum…

            -E acho que os sonhos são coisas muito sérias. Há pessoas que se matam por não alcançarem seus sonhos.

            -.Huhum…

            -E eu, desde pequeno quis ser… Mas que Daibos você está lendo nesse outdoor?

            -Ãh? Nada. Nada. Mas sabe que é até bom, porque daí você não perde tempo e procura algo em que você seja realmente bom.

            -Ah… Então ta, né, vou jogar fora… Mas no que sou bom hein?

            -Em várias coisas.

            -Mas em que?

            -Não trocamos nosso goleiro de domingo por nada nesse mundo!

            -Ah…

            -Eu nunca vi alguém tomar cerveja tão rápido como você sem que ela saia pelo nariz.

            -É, que mais?!?

            -Nunca vi alguém embaralhar o baralho com a boca com tanta maestria!

            -Deus Pai, me tem que ter algo mais útil que eu faça!!!

            – Olha, assim, de sopetão fica difícil… Deixe-me ver… Ah! Abrir a long neck com os dentes, isso é demais…

            -Que mais?

            -E eu nunca vi alguém mais conquistador do que você. É impressionante!

            -…

            -O que foi?

            -Você acha mesmo?

            -Acho o que?

            -Que sou bom conquistador?

            -Claro que sim, com você é tiro e queda. Mas por que a pergunta?

            – Nada, é que a Claudinha, a menina nova da recepção, sabe?  Acho que está dando mole. Sabe como é. Conversa vai, conversa vem.

            -Com certeza! Vai nessa, Garotão! Demonstre a ela todo seu charme e conhecimento sobre as mulheres!

            -Isso mesmo.

            -Cadê o quadro?

            -Que quadro? Ah, esqueci no ponto… Vamos para o Beer Club  que hoje eu pago.

            -Opa! Vamos garanhão. E aí, viu o jogo ontem?

 

Autor: Thiago Petrin França

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Carapuça

Sabe aqueles dias em que questionamos tudo o que vemos pela frente? Quando temos crises existenciais e não aceitamos o mundo como ele é? Pois bem, hoje é sexta-feira e eu, como faço, infelizmente, todos os dias, saí para trabalhar. Chuva chata, metrô cheio e… Lento. Eu sempre espero o trem vazio para poder viajar menos apertado. Como o metrô estava com a sua “velocidade reduzida”, a plataforma se encheu mais do que de costume e, por obra do acaso, uma senhora caiu na minha frente na hora em que chegou o trem vazio. É porque um senhor, que estava impaciente com a demora da velha senhora, sutilmente a empurrou, e esta caiu… Na minha frente! Justo na minha frente! Quase que eu não consigo entrar no trem vazio! Ainda bem que consegui pular, habilmente, a senhora e entrar, mas não fiquei sentado.

O bom de ficar em pé no metrô é aproveitar o mínimo ar que vem das estreitas frestas do teto, dessa forma, chego menos suado ao serviço. Também podemos melhor observar as discussões. Havia uma mulher supostamente grávida (como estava cheio o vagão, Não enxergava a sua barriga) discutindo com outra moça, distinta, que estava sentada no banco reservado para gestantes, idosos e deficientes físicos. Alegação: um problema crônico no joelho direito. Mas sabe como são as mulheres não é? Impressionante a união delas… Principalmente quando se fala em gravidez. Não é que juntaram umas quatro ou cinco e arrancaram a mulher do assento reservado. A grávida finalmente sentou. E ficou provado que a moça, que alegava problemas no joelho, realmente não estava mentindo, pois mal conseguia ficar em pé. Pena que eu não pude ver o final da briga. Na verdade pena não, pois tive a sorte de liberarem um lugar na minha frente. Pude seguir a viagem sem maiores problemas.

A chuva aumentou, mas eu não pude percorrer o curto caminho do metrô até meu serviço pelo cobertinho das lojas, porque estava inundado de mendigos se escondendo. Conclusão: Cheguei molhado. Muito molhado. Mas eu estava alegre, nada iria me abalar.

O serviço passou rápido. Tiro curto. Nada de cliente chorando porque roubaram seu cartão, ou porque fizeram compras indevidas. Nada de choramingueiras hoje, até porque, quando ligava cliente muito chorão, a ligação “caía acidentalmente”. Na hora de voltar para minha casa, foi tudo as mil maravilhas. Nenhuma confusão, discussão, quebra-quebra, enfim… O chato é que a viagem fica monótona. Mas tudo bem. Nada que um panfleto de supermercado não me distraísse. Ainda deu tempo de assistir ao VT do jogo de ontem. O horário do jogo iria acabar bem na hora de ir para a faculdade… Se não fosse o plantão de notícias mostrando um bendito assalto a uma agência bancária com reféns. Meu, para que tem Jornal Nacional?!? “As notícias do mundo” a gente fica sabendo lá e não no meio do jogo! Enfim, saí um pouco atrasado de casa, mas consegui chegar a tempo na faculdade. O professor atrasou.

Ao chegar em casa, jantei e assisti ao telejornal para saber o resultado do jogo (que por sinal não foi noticiado pelo fato de ter sido VT) e vi que, naquele assalto, infelizmente morreram os bandidos e um dos reféns. Sabe aqueles dias em que questionamos tudo o que vemos pela frente? Quando temos crises existências e não aceitamos o mundo como ele é?  Complicado isso, como ocorrem coisas conturbadas no nosso dia-a-dia, não? Em plena sexta feira, quase que eu não pego o metrô vazio, tomei chuva, não vi o jogo terminar, cheguei atrasado na faculdade… Como o mundo é…

Autor: Thiago Petrin França

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Rapidinhas de Natal III

Na Ceia

– Fico muito feliz que estejamos todos aqui. Agradeço muito que você tenha vindo Jussara.

– O que é isso Alberto. Estava na hora mesmo de passar o Natal, os dois, com nossos filhos. Afinal, nos separamos há tanto tempo…

– Ainda bem que pensa assim. Ainda bem! Todos se dando bem, harmonicamente. Não é mesmo meu amor?

– Sim, mas assim, Jussara, fala menos e me passa o sal, por favor?

– Claro. Logo vi que você é meio sem sal…

E o marido se engasgou…

Autor: Thiago Petrin França

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Rapidinhas de Natal II

Na Amante

– Não acredito que a toupeira da sua esposa realmente acreditou que você tinha uma viagem de negócios na época do Natal.

– Não fale assim dela, vai. É que há oportunidades que não podemos perder a chance, senão a concorrência toma a nossa frente hehe.

– Ai, deixe ela para lá que já vai dar meia noite… 5, 4, 3, 2, 1.

– Feliz Natal amor. Olha seu presente aqui. Espero que goste…

– Nossa, é lindo, Augusto. Deixa eu ver o cartão… Augusto?!?

– Sim.

– Por que o cartão está em nome da sua esposa, Augusto?

– O quê?!?! Eu não acredito que…

E o celular dele tocou…

Autor: Thiago Petrin França

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Rapidinhas de Natal

Na Sala

– Olha só o que o Papai Noel me deu de presente! Uma bicicleta. Muito mais legal do que esse Joguinho idiota que você ganhou.

– Hum…

– Você deveria ter vergonha de ter sido um menino tão mal criado esse ano. Porque só assim para ganhar um presente tão cafona assim.

– Huhum…

– Seus pais devem sentir vergonha de você. Meu Deus, um joguinho tão michuruco assim…

-…

– E aí, não vai falar nada? Está tão envergonhado que não cons…

– Papai Noel não existe!

– Mãeeeeee…

Autor: Thiago Petrin França

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Rapidinhas

Amigo Secreto

Bem, meu amigo secreto é uma pessoa fantástica, companheira, sempre está comigo, para comemorar nos momentos bons…

E a esposa se enchendo de orgulho…

– … para acolher, nos momentos ruins… Enfim, se eu for ficar aqui falando sobre essa pessoa, a noite inteira vai passar, porque ficaria dias apenas elogiando.

A esposa, já com os olhos cheios de lágrimas levanta de sua cadeira e abraça o marido:

– Nossa, Amor, nunca ouvi uma declaração de amor tão linda na minha vida! Obrigada …

– Mas querida, meu amigo secreto é o Chicão.

– O que?

Os olhares de todos se voltam para o marido.

– Que foi?

Autor: Thiago Petrin França

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A Consulta

– O Dr Rosimal já irá atendê-lo!

– Oi? Ah, muito obrigado.

Sim, eu estava entregue. Precisava encarar a situação de frente. Já não dava mais para aceitar aquilo. O consultório era muito bonito. A atendente era muito atraente também. Mas ela tinha aquilo muito mais do que eu. Todos tinham. Todos! Todos cheios, cheios de cabelos! Fios longos, curtos, mechas, penteados. A moda moderna capilar, acho eu, particularmente, muito feia. Mas eles podem ser feios. Eles podem tentar. E os meus? Me abandonam. Como filhos rebeldes fujões. Aos bandos. Minha cabeça lembrava mais o Bangu 1, tamanha facilidade de fuga. Mas eu estava lá, com a cara e a coragem.

– Sr, sente-se aqui, por favor. Precisamos fazer a ficha.

– Sem problemas.

Ela estava ali, sentada à minha frente com um sorriso extremamente sarcástico. Devia estar pensando “O que kojak veio fazer aqui? Quer desvendar o assassino de suas raízes capilares?”. Eu sabia que era isso.

– Em que posso ajudar? Qual o problema?

“Como se você não soubesse… A canalha está olhando para mim. Mas… Não para meus olhos. Ela… ela está olhando… para as minhas entradas!?!?! Tenho certeza. Eu poderia ameaçá-la com o seu bico de pato. Seria refém de seus próprios objetos.”

– Então, sabe como é, meus cabelos estão caindo descontroladamente.

– Hum. Entendo.

“Entende? Ah, quer dizer então que você entende? Menos mal não?”

– Mas vou avisando que cabelo não nasce do dia para a noite, ou seja, se mantiver os que estão aí já será um sucesso. Há pacientes que querem visitar o dr achando que ele fará milagre.

“Sucesso? Sucesso? Agora eu estou feliz, note a minha felicidade… NOTE!!! Você é médica por um acaso”

– Mas por quê? Será que Não tem mais jeito?

-Veja bem, O sr tem problemas de queda de cabelos…

“Ah, nossa, Obrigado! A atendente enxerida e cabeluda desvendou o meu problema. Serei eternamente grato a essa percepção que até um cego faria”.

– Entendo. Ficarei satisfeito em manter os sobreviventes.

– O Doutor já está a sua espera. Pode entrar.

– Obrigado.

Caminhava lentamente ao consultório. Ao entrar, vejo o Doutor sentado e escrevendo algo em seu caderno de anotações. Deparo-me então com uma das mais impressionantes e lustradas carecas que já vi. Era impressionante. Poderia me arrumar para um casamento olhando apenas para aquela massa de pele lisa e brilhante. Meu Deus! Sentia-me o Pepeu Gomes perto dele.

– Em que posso ajudar?

– Oi? Não, é que, o dr sabe, minha mulher insistiu muito para que eu viesse aqui doutor. São essas manchas, manchinhas bem aqui doutor. O dr. vê?

– Não, não vejo nada.

– É, então, aparecem mais à noite. Dá para entender?

O sorriso estava estampado. Não me continha em alegria. E eu reclamando da vida…

– Pode ser algo que o sr tenha ingerido. Andou comendo algo de diferente?

– Com certeza Dr. Deixei de comer aquele peixe de água doce, esqueci o nome… aquele… Grandinho…

– Hum, sei. Bom, se o Senhor melhorou então nem tenho o que receitar. Se voltar a alergia o Senhor volte aqui e examinaremos.

– Obrigado Doutor

– Interessante. A secretária havia me passado uma ficha constando problemas de quedas capilares. Havia até pensado em receitar o remédio que eu passo nos meus.

“Ele ainda passa remédio?!?!? O frasco dele deve durar uns três anos, no mínimo.”

– Olha dr, ela deve ter trocado as fichas. Houve um senhor que falou com ela e foi embora, deve ter sido ele. Pode ser que ficou constrangido.

– É, deve ter sido isso mesmo. Pode ir.

Fui embora saltitante. O tempo me castigará, eu sei. Mas, coitado. Não poderia fazer aquilo com ele. Estaria reclamando de barriga cheia. Com ele foi uma debandada. Ao vê-lo, pensei até em deixar meus cabelos crescerem e fazer tranças. Sabe? Como estão fazendo hoje em dia? A moda pega…

Autor: Thiago Petrin França

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Ativistas

Certa vez, em meados de 2007, os principais líderes mundiais se reuniram para solucionar um problema que estava incomodando muito a todos eles: a pobreza e a desigualdade social. Líderes do norte, do sul, do leste e do oeste do mundo estavam juntos, a fim de solucionar esse empecilho, esse mal que estava prejudicando a muitas pessoas. Muitas! E o debate começou fervoroso…!

Evidentemente, algumas idéias foram descartadas a princípio, por isso citarei aqui apenas as que foram mais ouvidas. Um dos representantes do norte, pequeno, de fala simples e olhar profundo, levantou e disse: “Por que não exterminamos os pobres? Desta forma, a pobreza acabaria por completo!”. Começou a balburdia. “Como é que pode alguém pensar em algo tão absurdo”, diziam. E os jornais, as revistas… o que iriam escrever? E os ativistas? Ah, os ativistas…! A idéia foi definitivamente descartada. Outro líder, mas esse de um país do hemisfério sul, gesticulando muito se pronunciou: “O que precisamos é dar oportunidade aos pobres, e, assim, acabar com a desigualdade”. “Mas como?” Perguntaram alguns. Silêncio… Precisava pensar. Como fazer isso? Após alguns minutos de profundos ou profanos pensamentos, chegou à conclusão de que o ato benéfico de não exterminar os pobres, se bem divulgado, seria visto como uma grande oportunidade para os menos favorecidos. Legal! Mas o que mudaria? Vamos refletir. Estavam pobres. Depois, condenados. Agora, continuam pobres, porém, não mais serão exterminados. Percebeu a diferença? É interessante como, às vezes, uma idéia ajuda a outra. Mas havia os ativistas…! Certamente eles criticariam. O primeiro líder citado também quis exterminar os ativistas, mas foi apenas em um lapso de fúria.

Algo precisava ser feito. Não poderia aquela situação continuar sem uma solução. Um outro conceituado líder de Estado, magro e alto, solicitou o direito à palavra. Garbosamente, disse em bom tom que em seu país não havia pobreza, tão pouco desigualdade social, também por ter, em seu nobre guia de ruas, apenas quatro páginas. Mas estava disposto a ajudar uma causa tão nobre e de fundamental importância para o mundo, seu grande desejo. Alguns chefes de Estados da região mais antiga do mundo sugeriram algumas alternativas. Mas eram idéias bombásticas demais e causariam um impacto muito grande.

Há quem diga que um homem alto, cabelos longos, barbas longas e olhar sereno, sem pedir a palavra, disse calmamente: “Por que não há uma melhor divisão de renda e uma menor exploração dos menos favorecidos? Por que não dão aos pobres o que deles é de direito?” Um imenso ataque de risos tomou conta de todos. Perguntaram insistentemente quem havia dito aquela engraçada anedota, mas quem a proferiu não estava mais no local. A reunião terminou pouco depois. O resultado? Podemos notar nas ruas. Principalmente nas ruas. É apenas uma questão de ponto de vista. O que nunca foi desvendado é quem era o misterioso homem que saiu antes do encontro acabar. Provavelmente algum ativista…

Autor: Thiago Petrin França

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Rapidinhas

Na cama

 

– Amor, o jantar estava delicioso.

– De verdade?

– Sim. Muito bom mesmo. Nossa, passei mal de tanto comer…

– Hum. Bem que eu vi que você sumiu uma hora. Então foi por isso? A Rutinha até saiu para te procurar, demorou tanto e disse que não havia achado.

– Claro amor. Eu estava no banheiro…

– Que estranho… Quando perguntamos por que a Rutinha havia demorado tanto, ela disse que não tinha te achado e que aproveitou para ir ao banheiro…

– E daí?

– Como e daí, Rosivaldo?!? Como e daí? Esqueceu que temos apenas um banheiro na casa?

– Ela mente! Mente, entendeu? Ela é uma mentirosa sem escrúpulos.

– Meu amor, ela é sua prima…

– Isso é o que ela diz!

E foram dormir.

 

Autor: Thiago Petrin França.

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A primeira vez a gente nunca esquece

Olá pessoas que visitam meu humilde blog. Bem, sou marinheiro de primeira viagem neste assunto, mas tentarei sempre colocar textos bacanas aqui no blog, para que vocês não se arrependam de ter acessado e voltem mais vezes.

Sempre que possível, vou colocar algo novo aqui, com temas variados e  bom-humor.  Espero que gostem.

Enfim,  boa leitura.

Ah, comentem os textos para assim saber o que pensam.

É isso.